Lua Cheia
A luz dos círios agora era muito mais forte que a do luar: ela já havia
acendido seis, e a cada nova vela acesa o brilho prateado da Lua parecia
esmaecer. Olhando para fora pela fenda no teto de pedra, a garota percebera que
algumas nuvens diminuíam a força lunar na noite.
De
repente, isso mudou: um vento mais forte afastou as nuvens, e então a Lua
Cheia, agora bem no alto do céu, invadiu a caverna com toda a sua força e a sua
magia.
O rapaz
preso no centro da câmara soltou um urro de dor, um lamento intenso que se
transformou em uivo, à medida que seu corpo readquiria a feição lupina.
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Clímax da história...
Ele arreganhou os dentes de novo, satisfeito.
Saltou sobre a garota e derrubou-a no chão frio. Ela não podia escapar. Não
havia amarras sociais, nenhum comportamento padrão a ser seguido, nenhuma regra
imposta a ser obedecida.
Havia apenas o predador e sua vítima.
Ela viu um brilho de reconhecimento nos olhos
que a fitavam de perto... como se uma sensação o atingisse de repente. O animal
a conhecia. E sabia que, se matasse daquela vez, se experimentasse a carne
humana, sua redenção se tornaria impossível. O Ritual seria inútil.
A fome venceu. Ele arreganhou os dentes e já ia
encaixá-los no pescoço da presa, quando ela reagiu. Com um soluço arrancado do
fundo de sua alma, firmou as mãos.
– Eu te amo, Hector – sussurrou.
E cravou o punhal de prata no coração do
lobisomem.
*
*
O Poema Ritual
Com a
ajuda de um amigo húngaro, após anos de pesquisas, Hector descobriu um poema em
Latim inscrito numa lápide misteriosa na Europa. Talvez aquele texto fosse a
chave para se realizar um Ritual capaz de anular a maldição que transforma um
humano em lobo. Mas como interpretar o real significado do poema?
*
Por sete cantos do mundo
Tua peregrinação
Sete passos sem descanso
Da origem da maldição
Homo Lupus, licantropo,
Pelo sangue derramado
Bebe deste amargo copo
o fogo purificado.
Por sete espadas de prata
Teu sangue em expiação
Sete horas, Sete círios
Selam tua redenção.
*